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DE INFANTA A PRINCESA SANTA JOANA (PORTUGAL)

A princesa santa Joana, tão conhecida em Aveiro, era filha de D. Afonso V e irmã de D. João II. Apesar de ter sido criada no seio da família real, foi a vida ecleasiástica que a chamou. Viveu no extinto Mosteiro de Jesus, hoje Museu Nacional da cidade.

Joana, filha de D. Afonso V e de D. Isabel, é uma figura incontornável de Aveiro. O feriado da cidade é no aniversário da sua morte (12 de maio de 1490) e o seu nome foi dado a uma freguesia. O que atraía a Infanta a Aveiro? Não sabemos bem, sabemos que lhe chamava a “pequena Lisboa”. Também sabemos que oficialmente não pode ser chamada de santa Joana, mas isso pouco interessa à cidade de Aveiro.

Quem é santa Joana?

A princesa Joana nasceu em Lisboa, no Paço Real (que se perdeu no terramoto), e foi aclamada como princesa herdeira até ao nascimento do seu irmão, João. Cedo ficou órfã de mãe e a sua educação foi entregue à tia Filipa, irmã da mãe, e a Dona Beatriz de Menezes, dama de sua mãe. Sempre foi muito religiosa, nunca se interessou pela vida na corte, mas sempre cumpriu com as suas obrigações enquanto filha e irmã do rei. Diz-se que chegou a ser regente do reino em 1471, quando o pai e o irmão viajaram para Arzila. Quando regressaram a princesa Joana colocou as suas mais preciosas joias, foi esperá-los ao desembarque, e pediu ao pai que lhe fosse permitido seguir a sua fé. A contragosto, o pai aceitou que fosse para o mosteiro de Odivelas, em 1472.

O mosteiro de Odivelas (onde estava a tia Filipa) e o de Santa Clara (onde o pai lhe recomendou que ficasse) não lhe enchiam as medidas. Joana queria um convento austero e encontrou-o nos dominicanos, em Aveiro, um convento feminino relativamente recente. Foi para lá jovem e nunca fez votos. Manteve uma vida igual às companheiras de convento, chegou mesmo a ser noviça e a vestir o hábito. A corte não a deixou professar, incutindo-lhe o peso de proteger a sucessão do trono. A tia achava que devia casar e assegurar descendência e o povo não a queria num convento tão pobre.

Abandonou o convento a 7 de setembro de 1479, devido à peste, refugiando-se em Abrantes, e voltou 11 meses depois. Tornou a sair do convento em 1485, pela mesma razão, chamada pelo irmão a Alcobaça, voltando em 1486. Morreu aos 38 anos, em Aveiro. Criou no convento o seu sobrinho Jorge, filho bastardo de D. João II.

No seu percurso sempre ajudou os mais necessitados da cidade, que ficaram muito comovidos quando morreu de peste. O primeiro milagre que lhe foi atribuído tem a ver com a passagem do seu túmulo pelo jardim: diz-se que à passagem do túmulo pelo jardim surgiram imediatamente flores. A cidade sempre a chamou de santa Joana, apesar de, oficialmente, ser apenas beata. Foi sepultada no coro e o seu primeiro túmulo foi oferecido pela Duquesa de Caminha, Ana Manique Lara. Foi canonizada em 1693 e D. Pedro II fez-lhe um mausoléu em jaspe, uma das peças mais bonitas e singulares do Museu Nacional de Aveiro, tal como a própria sala onde se encontra.

Museu de Santa Joana

Mitos

O seu retrato, que está no Museu de Aveiro, era o formato escolhido para apresentar a jovem aos solteiros e potenciais interessados nas cortes europeias. Era muito cobiçada e havia fortes interesses para que casasse bem. Esteve prometida várias vezes: a Carlos VIII, a Maximiliano e a Ricardo III, para que o seu primo, D. Manuel I, pudesse casar com Isabel de Iorque. Dizem que profetizou a morte de Ricardo em combate. Aliás, reza a lenda que todos os seus pretendentes morriam antes de casar, para que se cumprisse a sua vontade. Será outro dos seus milagres?

Santa Joana

Na verdade, num livro que o museu colocou online a 12 de maio de 2020, é indicado que, historicamente, é impossível que tenha sido prometida ou pedida em casamento por qualquer daqueles nomes. Refere sim Henrique VII, que já era casado, e não Ricardo III. Como Ricardo morreu em 1485, deixou de se considerar Henrique VII e passou a dizer-se que era de Ricardo que falavam os cronistas.

Mosteiro de Jesus

D. Brites Leitão e D. Mecia Pereira fundaram o Convento de Jesus na segunda metade do século XV. Está exposta no museu a bula papal de 1461 autorizando a sua fundação. Era um convento da Ordem Dominicana, feminino, muito pobre. Há quadros que descrevem a entrega da infanta Joana pelo rei D. Afonso V e pelo príncipe D. João no Mosteiro de Jesus.

O convento de clausura foi extinto em 1874, quando morreu a última religiosa. Em 1882 o edifício foi entregue à Ordem Terceira Dominicana e transformado em Colégio de Santa Joana. O colégio extinguiu-se em 1910 e a Igreja de Jesus foi decretada monumento de interesse nacional. Em 1912 é criado, nas instalações do convento, o Museu de Aveiro, carinhosamente conhecido na cidade pelo Museu Santa Joana. Este tem uma importância monumental, relacionada com o edifício, mas também pelas exposições permanentes que possui. A sua coleção de arte sacra é consistente, mas, para nós, é enquanto monumento histórico, pela sua arquitetura, que se destaca.

A igreja é em talha dourada e, apesar da pouca iluminação, sente-se grandiosidade ao vaguear pelo coro alto. É possível assistir a concertos e missas. Não se esqueçam de observar os órgãos, que são peças fabulosas.

Museu de Santa Joana

Museu de Santa Joana

Visitar:

O Museu fica junto à Sé, na Avenida Santa Joana, abre de terça a domingo, das 10h às 18h. O bilhete custa 4€.

Sugerimos que conjuguem a visita ao museu com a Sé, o Museu de Arte Nova, e uma caminhada pelos canais até ao Mercado. Claro que não podem deixar passar os ovos moles.

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